sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A MUDANÇA - por Teresa Montes Jornalista




Tem algumas coisas em nossa vida que precisamos passar, para amadurecermos e tirar daquele momento difícil alguma lição.



Cedo passei por uma grande provação – mudar não só de casa, mas de cidade também.



Lembro-me com tristeza de despedir de cada cômodo da casa onde morávamos, lá pelos meados do começo da década de 70, em Araguari, Minas Gerais... Ainda criança, uns nove anos... Ficava na Rua Jaime Gomes. A casa era simples e tinha vários cômodos, quatro quartos grandes, uma sala espaçosa, banheiro social e banheiro na suíte, cozinha e copa juntas, dispensa com lavabo, quartinho na área externa com banheiro para empregada. Um quintal com uma mangueira maravilhosa, um galinheiro construído por meu pai, confortável, com piso elevado, casinha de botar ovos, cocheiro de água e ração... Dentro um piso era forrado de palha seca que era sempre trocado. Havia três balanças no quintal, uma para cada filho. Eu me despedia de tudo com olhar comprido, sabendo que não mais aproveitaria aqueles espaços.



As galinhas papai havia doado para alguém cuidar, acho que minha Tia da fazenda...



Minha mãe colocou quase todos os brinquedos, meus e dos meus irmãos, na porta de casa, fazendo uma montanha com eles. E pouco a pouco, vi meninos e meninas carregando minhas preciosidades... O que mais senti, foi ver minha boneca que ria a Gui-Gui ser levada sem dó...



Coisas materiais até que a gente vai acostumando com o tempo. Mas, o que realmente me cortava o coração é ter que deixar minhas amizades. Amizades de brincadeiras, de pique-esconde, de teatro, de desfile. De brigas, algumas que marcaram uma amiga com uma enorme cicatriz... Disputa de calçada. Outra amiga, com pontaria certeira, do outro lado da rua, pegou uma pedra solta na calçada, quadrada, do tamanho da mão fechada. Jogou... E acertou bem na cabeça... Vários pontos... Uma culpa por incentivar a menina da pontaria a acertar a outra que também era nossa amiga... Mas o perdão veio de forma inusitada.



Vendo o caminhão de mudanças, todo repleto de nossos tesouros, móveis, brinquedos, bicicletas, eletrodomésticos... Tudo ali, bem apertado e pronto para ir.



Não sabia que minhas amigas, três de coração, haviam colocado em meio de roupas e gavetas alguns bilhetes inesperados.



Ao chegar à nova cidade, Uberlândia, lentamente colocando todos os objetos nos novos lugares, na nova casa. Minha mãe me chama e entrega os bilhetes.



Cada um do seu jeito, dizendo em poucas palavras, que não esqueceriam jamais de mim, e eu era uma amiga especial. Até mesmo minha amiga que levou os pontos...



Acho que chorei por três anos seguidos. Até conhecer novas amizades. E minhas amigas? As encontrei depois, visitando minha rua antiga por algumas vezes. E agora, depois de muitos anos, as encontrei, cada uma na sua vida, com filhos, com suas profissões... A amiga da pedrada uma fisioterapeuta maravilhosa, pedi perdão novamente pelas proezas da pedrada... A outra uma professora de faculdade, não a reconheci, porque quando era pequena, tinha grandes bochechas, e ficou uma moça muito elegante, sem bochechas... E a mais nova, Engenheira Civil, tem uma filha adorável, que parece muito com sua irmã, a professora de faculdade, quando era pequena.



A mudança foi dolorida, mas necessária. E dela tirei o valor de verdadeiras amizades de uma infância feliz.

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